quarta-feira, 25 de março de 2009

Crise (s)

O mundo está conhecendo a primeira crise após o advento da chamada globalização econômica. A história humana sempre esteve permeada por crises. E com elas sempre veio o desemprego, a marginalização, a pobreza absoluta. A mais recente delas surge após um processo de transnacionalização do capital, a configuração de redes globais de informação e depois de alcançar um estágio tecnológico jamais experimentado pela humanidade em toda a sua trajetória.

Todos sabem quando e como essa crise se iniciou: no último ano, pelo colapso do mercado imobiliário subprime e a conseqüente supressão de crédito no sistema financeiro norte americano. Porém é difícil fazer-se previsões sobre quando ou como ela acabará.

O Brasil não está imune aos seus efeitos. Cerca de 30% do crédito brasileiro é tomado, normalmente, no exterior, e com sua supressão, as empresas se voltam ao mercado interno para buscarem mais crédito, o que certamente implicará na retração dos investimentos ligados à produção. Isso sem levar em conta os efeitos direitos sobre o faturamento das empresas que trabalham com o mercado externo e as dificuldades advindas da retração dos negócios.

Com efeito, as previsões da FEBRABAN já prevêem inadimplência recorde e a possibilidade de recessão em 2009. O resultado é a diminuição do crescimento do PIB brasileiro, passando as projeções de 1,9% para apenas 0,3% neste ano. A maioria dos bancos acredita que a economia deva começar a se restabelecer em 2010, com crescimento de 3,2% do PIB. Até lá se corre o risco de a economia brasileira gerar a desestabilização da estrutura produtiva, acompanhada por impactos na composição familiar e social brasileira.

A matriz desta desestabilização é financeira, mas as causas possuem raízes históricas dissociadas dessa, estando instaladas na própria condição humana: em suas intenções e atitudes. A lógica especulativa e cumulativa que move o capital é centralizadora, porém seus efeitos nocivos são absolutamente socializantes. Isso é: na hora de ganhar, poucos se beneficiam, na hora de perder muitos pagam a conta.
Nos Estados Unidos, para destravar o sistema de crédito americano, o presidente Barack Obama deverá colocar em prática um plano que destinará US$ 1 trilhão aos chamados ativos tóxicos ou títulos “podres”, créditos considerados de difícil recebimento ou papéis de aplicações lastreadas em títulos cujas chances de pagamento são pequenas.

Pretende o Presidente Barack engendrar maneiras de as instituições financeiras voltarem a emprestar. E, com isso, gerar maior otimismo no mercado americano. No Brasil, o presidente Lula já acenou a utilização de recursos públicos para dar suporte a investimentos privados que mantenham o PIB em patamares aceitáveis, as empresas exportadoras ativas e a liquidez dos créditos como suporte à produção industrial.

Com efeito, mobiliza-se vultosos recursos, que poderiam ser gastos, pelos governos, em obras sociais, para desfazer os efeitos da especulação e da ganância cumulativa, dissociada da produção de bens e serviços de caráter desenvolvimentista e progressista. Isso é: comprar ativos tóxicos ou títulos “podres” para que esses não venham ocasionar recessão e desestruturação social.

Essa crise espelha muito bem os elementos subjacentes, presentes em todas as demais, que hoje assolam a humanidade neste momento: é uma crise ética, marcada pela deterioração de valores coletivos em detrimento da exacerbação dos interesses individuais. Ao juntar os interesses mundiais, pela aproximação de mercados, a sociedade mundial criada incorporou em si velhas atitudes humanas. A solução para essa anomalia passa por uma revisão de valores individuais e coletivos. O educador, consultor e sócio fundador da Empresa Amaná-Key, Oscar Motomura, em suas palestras costuma afirmar que “está na hora de mudar a cultura, apoiada em sistemas de escassez, onde uns perdem e outros ganham, para entrar na economia da abundância, o que significa que o indivíduo possa fazer coisas de um jeito tal que todos ganhem muito. É a busca de um sistema de vida e de relação que faça os recursos se multiplicarem, onde haja a generosidade de fazer-se as coisas juntos”.

A cultura da confiança e da solidariedade já é praticada por aqueles que estão nas bases das pirâmides sociais, encontrando resistência à medida que ascende ao cume. Nenhum regime político quer de esquerda, quer de direita, quer se propugnando democrático ou ditatorial conseguiu resolver, ainda, essa questão subjacente a todo o ato humano: transformar atitudes egocêntricas em altruístas. Nem pela força, nem pela palavra. Talvez a saída esteja no fato de nos lembrarmos da existência de um sistema de valores paralelos ao arbítrio humano, um sistema cósmico que tem suas próprias leis. Esse sistema é baseado no princípio da unidade e da harmonia entre as partes. Toda vez que nos desviamos dessa forma unitiva, estamos nos desviando do rumo e gerando, em conseqüência, crise & crises.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O Artífice

Desde que passou a ser disseminado, esse blog ostenta o título "O Ser Humano é o artífice: cria, recria e transforma", que, aparentemente, não revela afinidades com a linha editorial adotada, voltada ao fomento de idéias e aspectos que conformam a realidade brasileira. Até recentemente, o imaginário e a opinião pública se apoiavam significativamente nos conteúdos veiculados pela chamada grande imprensa.

Mas essa realidade passou a sofrer substanciais transformações. Os leitores não deixaram de buscar a chamada grande imprensa, mas eles querem opinar sobre os assuntos veiculados, querem trocar idéias com pessoas que possuam as mesmas afinidades, para traçar opiniões paralelas, a partir de suas diferentes visões sobre os assuntos enfocados.

Em primeira linha, os leitores deixaram de assumir atitudes passivas de apenas “tomar conhecimento dos fatos” para optar por outro caminho: o da interatividade ou da participação ativa nos eventos enfocados. Isso significa que o que mudou foram suas atitudes. De forma subjacente, manifestam uma necessidade primária de sobrevivência humana nesta forma de vida: todo o ser humano deseja ser considerado.

Essa necessidade vital o torna artífice de seu próprio destino, criando, recriando e transformando a realidade onde atua, mas, significativamente, promovendo uma verdadeira transformação em si mesmo. Ao fazer algo, o ser humano também se faz. Dessa forma, a partir das manifestações quotidianas ele vai experimentando a abertura de sua consciência, estando cônscio do significado prático dos fatos comportamentais nos negócios humanos.

Sob essa premissa, onde cada ser humano busca ser considerado e aceito pela sociedade humana, estabelece-se uma verdadeira utopia de que a interatividade humana venha a contribuir para a construção de um mundo sadio, alegre e produtivo. Nada mais tão próximo, porém nada mais tão relativo, pois o poder humano tem aumentado desproporcionalmente à sua sabedoria.

E, assim, as hegemonias acabam por relativizar o sonho de construção de uma sociedade democrática, paritária e evolutiva. Não há fórmulas mágicas. Os processos alternativos se constroem ao longo da caminhada, pela justaposição de idéias.

Dessa forma, estão constituídos os ingredientes básicos para a existência deste blog, que não possui quaisquer preocupações com formas sectárias, panfletárias ou político-ideológicas estratificadas. Ao contrário. Passa-se a defender a postura de que, por trás de cada ser humano, há sempre um homem de ação e um sonhador, um solitário e um de espírito social, um asceta ou um libertino, um herói e um covarde, um homem passional e um ser cognitivo, mas todos esses aspectos podendo coexistir lado a lado em um mesmo organismo.

Pretende-se, pois, através dos artigos inseridos neste blog, gerar reflexões que conduzam o leitor a um autoconhecimento, para alcançar uma espécie particular de reforço diferencial. Trata-se uma tentativa de harmonizar o ser e o ter, combinados para despertar a própria medida. Enquanto se auto-afirma, o indivíduo reforça o seu ambiente social e se aproxima da verdadeira concretização da utopia que transforma todos os envolvidos.

Utilizando-se de todos os seus atributos, pensar, sentir, intuir, transcender, pretende-se alcançar o objetivo maior, lançado através deste blog, de incentivar o leitor a se tornar O Ser Humano artífice: que cria, recria e transforma.

terça-feira, 17 de março de 2009

Ecopensar

Seguidamente observo homens públicos proeminentes falarem ou escreverem as palavras "meio ambiente auto-sustentável". Tal designação me parece um eufemismo que busca estabelecer uma relação pactuada, entre o homem, em seu egocentrismo, a reprodução do capital, e as dádivas que a natureza oferece em seus ciclos de existência. Por si só a natureza já é “auto-sustentável”. O termo é absolutamente redundante. Mas a preocupação subjacente é relevante.
Não há pactos do tipo:" eu te deixo produzir e você me dá o que eu quero". Precisamos parar de acreditar que o ser humano transmuta os limites da própria natureza. Estamos ferindo de morte a nossa Mãe Terra. Ponto. Somos nós, seres humanos, quem a exaurimos e a deixamos estéril.

Durante os últimos 150 anos, as intervenções humanas provocaram desgastes e degradação sem precedentes na história deste Planeta. Portanto, é lúdico acreditar que há sempre uma condição regeneradora para cada ato de destruição. Aos que me lêem, não preciso demonstrar as evidências eloqüentes a que me refiro, porque elas, por si, já estão em pleno domínio público.
O futuro das novas gerações está ameaçado, fato não aceito ou não absorvido por muitos. Já não temos mais como recuperar o que foi destruído, mas temos como parar a nossa senda destruidora.

A Mãe Terra é um organismo vivo, como já demonstrou James Lovelock, em 1972, em sua “Hipótese de Gaia”. E sua iminente destruição poderá provocar danos em todo o sistema galáctico em que está inserida, pois tudo está em relação.

O fato é que ainda não temos um projeto para salvar este Planeta. O desafio está em promovermos uma verdadeira revolução de consciência em bilhões de pessoas e estabelecermos a Paz, a concórdia, a harmonia e a fraternidade como condição indispensável à sobrevivência humana neste Planeta, através de sistemas que estejam harmônicos com um outro sistema vivo, único e auto-regulador, chamado Terra.

Precisamos fazer uma grande revolução ética, capaz de evitar desperdícios, erradicar o consumismo exacerbado, além de vencermos o nosso medo de compartilharmos as riquezas naturais em processos de extinção, como legado às novas gerações. Precisamos evitar a diminuição da camada de ozônio e a morte indiscriminada de animais, a erradicação das matas, a contaminação das águas, a desertificação de áreas outrora férteis e o lançamento de partículas danosas no ar que respiramos. Isso e muito mais. Mas, acima de tudo, fazer cada ser humano acreditar que ele não transcende à própria natureza, mas, sim, ele mesmo pertence à totalidade.

Não há barganhas, nem benevolências.

Ecopensar, assim, é colocar as coisas em seu devido lugar. Acreditarmos que pertencemos a algo muito maior do que nós mesmos. Esta grande revolução deve começar de forma silenciosa, no interior de cada habitante deste Planeta, onde sua natureza passe a reverenciar a natureza que a gera, em toda a sua extensão e em toda condição de vida.

Texto publicado na revista Coletiva.Net, no dia 17 de março de 2009.

sábado, 14 de março de 2009

Alcoolismo: a vez dos jovens

O tema é recorrente e mundial. Cada vez mais cedo indivíduos estão adquirindo o hábito de ingestão de bebidas alcoólicas, independente do sexo, condição sócio-econômica, etnia ou quaisquer outras formas de estratificação social.

Em nota publicada no dia 14 de março do corrente ano, intitulada "Sem Controle”, a jornalista Lúcia Garcia, que assina coluna em jornal de grande circulação na cidade de Vitória, afirma: “ Alguns alunos – menores de idade – dos melhores colégios da Grande Vitória, estão bebendo além dos limites. Isso tem acontecido, principalmente, em festas de aniversários, fora dos estabelecimentos de ensino. É triste, lamentável mesmo, ver meninos e meninas em coma alcoólica”.

O alerta, lançado pela jornalista, não está acompanhado por estatísticas de representatividade do número de casos de coma entre jovens que ingerem bebidas alcoólicas. Mas certamente traz subjacente um veemente apelo, dirigido a pais, educadores, autoridades e a própria sociedade civil para que não fiquem inertes, passivos, mas façam algo por esses menores, antes que venham adquirir a síndrome da dependência alcóolica.

Pelo fato de serem menores, esses jovens ainda não adquiriram a maturidade necessária para avaliar o perigo a que estão expostos e nem mensurar as seqüelas que tais atos poderão resultar em suas vidas. São os adultos, que conhecem os riscos, os responsáveis por orientá-los e auxiliá-los a viver com equilíbrio e ponderação.

Por trás da inclinação de um indivíduo procurar um copo, que contenha bebida alcoólica, há sempre uma questão social. Todo indivíduos é, ao mesmo tempo, gregário e tribalista. Gregário porque sente a necessidade de estar ligado a outros indivíduos e tribalista porque sente a necessidade de pertencer a algum grupo ou forma associada de indivíduos que mantém o mesmo interesse gregário.

O primeiro elo de um ser humano, com os demais indivíduos, se faz através da família e, na sequência, com grupos de amigos, na qual estabelece relações de dependência e, também, de independência; isso é: ao mesmo tempo em que deseja “pertencer a um grupo, o jovem quer alcançar a sua autonomia, como indivíduo.

É nessa condição que se torna suceptível aos apelos à bebida. Quando em contato com os veículos de comunicação de massa, os jovens recebem o convite para beber, através de sugestivos anúncios publicitários. Ainda que essas propagandas digam: “bebam com moderação”, elas não deixam de conter o apelo “bebam”. “Se dirigir, não beba”, também apresenta o mesmo vocativo: os motoristas não devem beber, mas os que não dirigem estão liberados a fazê-lo. Esses apelos publicitários tem o seu sustentáculo: quem bebe socialmente é vitorioso, é uma pessoa sociável, agradável, é carismática.

No ambiente familiar, também há situações que reforçam os apelos publicitários, quando um familiar, taciturno, passivo ou agressivo, face aos problemas que enfrenta, participa de uma reunião social e bebe, se torna sociável, agradável, simpático. Observando ambos os apelos, os jovens associam a bebida à aceitabilidade social. E, quando chegam a realizar essa experiência, descobrem que o álcool pertence ao grupo das chamadas “recompensas celebrais”, que oferece bem-estar, satisfação e desinibição, dentre outras sensações de prazer. A quebra de inibição o leva à notoriedade: serem admirados, por beberem mais, se destacarem mais, terem mais coragem, terem mais resistência, transgredirem mais, enfim, lhe dão a falsa sensação de alcançarem popularidade e destaque.

E, toda vez que os jovens estão juntos, em tribo, passam a utilizar o álcool como meio para se sentirem aceitos, se sentirem considerados pelos demais, quebrando barreiras ou aumentando a sua influência sobre os demais.

Ao contrário de outras substâncias tóxicas, como a heroína e a cocaína, o álcool é uma substância que aceita um consumo moderado, em adultos saudáveis. São aqueles que conseguem permanecer em estágios intermediários de euforia. É dentro dessa permissividade que acontecem os abusos, muito comum entre os adolescentes e jovens adultos, que bebem alimentados pela intenção de alterar o seu comportamento.

É justamente aí que reside a preocupação da jornalista Lúcia Garcia, pela possibilidade de haver famílias que, muitas vezes não estão sensíveis ao problema, desconsiderando o consumo de seus jovens e sem atentar que esse consumo de risco pode representar danos claros para esses ou para o próprio sistema familiar.

Para muitos, o consumo excessivo pode levar à compulsividade e fazer com que o indivíduo alterne sensações de prazer e de sofrimento, já dentro de um quadro que pertence à chamada síndrome da dependência alcoólica. Quando bebem, esses indivíduos não conseguem mais controlar a quantidade a ser ingerida.

O álcool é uma droga e, como tal, causa dependência, a ponto de a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhecer que o alcoolismo já atinge dez por cento da população do mundo, sem poupar sexo, idade, condição sócio-econômica e/ou etnia. Os efeitos desse problema vão bem mais longe do que se pode imaginar, dando margem a uma séria de indagações e reflexões.

No Brasil, 11% da população brasileira é considerada portadora da síndrome do alcoolismo, o desonroso primeiro lugar na estatística, entre aqueles que consomem drogas, onde a maconha ficou com apenas 1% da população. Isso é, para uma população de 180 milhões de brasileiros, cerca de 18 milhões são dependentes químicos do alcool.

Paradoxalmente, aqueles indivíduos que utilizaram essa droga para abrir portas, as vêem se fechando, à medida que se consolida a sua síndrome de dependência. Eles enfrentam problemas sociais, legais, profissionais e, significativamente, clínicos e psiquiátricos. Não escapam nem mesmo do preconceito e da rejeição de grupos que anteriormente o acolheram.

O alcoolismo é uma doença tratável, como qualquer outra doença crônica. A ciência mostra que há uma taxa elevada de recuperação de indivíduos quimicamente dependentes.

Segundo o Dr. Dráuzio Varella, “o envolvimento da família geralmente acontece a partir da 2ª fase da doença, quando surgem os problemas paralelos, como acidentes de trânsito, violência, perda de emprego, decadência social, financeira e moral. É quando ocorre a síndrome da co-dependência, isto é, a família torna-se também dependente da substância álcool. É uma dependência neurótica, um alcoolismo seco que provoca sofrimento e inúmeros desajustes”.

E ele enfatiza: “a essa altura, a dinâmica familiar passa a ser regulada pelo comportamento do usuário de álcool, na vã tentativa de controlar sua forma, quantidade e freqüência de beber, o que é impossível. Minada por um sentimento de culpa injustificável (os pais são tão culpados de transmitir os genes do alcoolismo aos filhos quanto os da cor dos olhos ou os do ambidestrismo), a família tem de conscientizar-se do problema e pedir ajuda. Fácil falar; difícil fazer. Em geral, por preconceito ou vergonha, procura-se negar o fato e a resistência só é vencida quando a situação fica insustentável e a família inteira desestruturada. "O lar fica alcoólico", disse a esposa de um alcoólico que quanto mais doente estava, menos condição tinha de pedir socorro”.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Jornais & web

A crise mundial está chegando às redações de jornais impressos. A supressão de investimentos, a revisão de custos de produção, que incluem a redução drástica do quadro de jornalistas, já atingiu o Jornal do Brasil, nos primeiros dias de fevereiro. E já retorna à mesa de discussões a velha questão: a mídia impressa está fadada a ser substituída pela web, que opera a custos bem mais atrativos? O fato é que, sempre que há uma crise na mídia impressa, há um novo fomento comercial ligado à web e, em conseqüência, mudança em seus paradigmas tecnológicos e conceituais. O webjornalismo abre espaço para a interatividade entre o leitor e a produção de notícias e, em decorrência, há formação de sistemas cada vez mais complexos que tornam obsoletos modelos vigentes.
Marcelo Povoa, sócio-diretor da MPP Solutions, em seu artigo “a Web fragmentada, publicada na Webinsider, afirma que “os usuários querem ler noticias editorialmente selecionadas por um grande jornal, mas também fatalmente opinam e interagem com inúmeros grupos de interesse e mesmo formam publicações paralelas, com seus próprios conteúdos, ensejando uma multiplicidade de interações fragmentadas na rede que podem exaltar e construir um brand – ou atacá-lo de forma literalmente virulenta”.
Por sua vez, os jornais impressos não estão somente envolvidos com a elevação dos custos de produção, mas com dificuldades em atrair leitores mais jovens, por apresentarem posturas conservadoras, estruturas estandarizadas e enfadonhas. Quem milita já há algum tempo no meio jornalístico sabe que as mídias se complementam e não são autofágicas. O jornalismo impresso continua, talvez mais encolhido e voltado a um público mais conservador. Mas o saneamento dos custos de produção, envolvendo a dispensa de jornalistas experientes, para extinção de altos salários, não é necessariamente a melhor solução. E, sim, a revisão da proposta empresarial que lhe dá sustentabilidade.
O jornalismo impresso vem desempenhando um papel fundamental à democracia e à defesa dos direitos constitucionais. Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, afirma que “o jornal, como qualquer negócio, não existe para perder dinheiro”, mas, por sua especificidade, está associado à “credibilidade, à qualidade do produto e também à ética. Os jornais impressos, hoje, atuam dentro de uma fatia qualificada de mercado, onde o público quer informação aprofundada, analítica, precisa e confiável. Só um produto consistente tem a marca da permanência. Qualidade editorial e credibilidade são, em todo o mundo, a única fórmula para atrair novos leitores e anunciantes.”
Para isso lembra o exemplo do New York Times, que recendente reviu a sua fórmula de sucesso: “Produzir jornalismo de qualidade e matérias sérias de maneira mais atraente”. Qualidade e bom humor. É isso. Os jornalistas precisam escrever para os leitores... pois dialogam consigo mesmo”... é preciso “apostar em boas pautas (não muitas, mas relevantes), uma outra saída. É melhor cobrir magnificamente alguns temas do que atirar em todas as direções. O leitor pede, em todas as pesquisas, a reportagem. Quando jornalistas, entrincheirados e hipnotizados pelas telas dos computadores, não saem à luta, as redações se convertem em centros de informação pasteurizada. O lugar do repórter é na rua, garimpando a informação, prestando serviço ao leitor e contando boas histórias. Elas existem. Estão em cada esquina das nossas cidades. É só procurar. O jornalismo moderno, mais do que qualquer outra atividade humana, reclama rigor, curiosidade, ética e paixão. É isso que faz a diferença”.
É importante atentar para o fato de que, para obter o sucesso e sair da crise, é necessário estar atento às mudanças e compreender a dinâmica dos sistemas em que estão inseridos, visando delinear cenários e estabelecer ações estratégicas. Simplesmente atuar pelas circunstâncias é correr o ônus de uma inércia, em tempos de verdadeiras transformações, provocadas por seu público alvo: o leitor.

quarta-feira, 4 de março de 2009

ESCOLA & COMPANHIA

O Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibemec) de São Paulo derrubou, segundo notícias divulgadas através do jornal A Gazeta, de Vitória, edição do dia 1º de março do corrente ano, a teoria de que a falta de qualidade na Educação está relacionada à carência de investimentos. Naércio Menezes Filho, responsável pela pesquisa, comparou os dispêndios por aluno com o desempenho escolar de educandos de quarta a oitava séries do ensino fundamental. E concluiu que um maior volume de investimentos municipais em educação não representou a elevação do desempenho escolar, que se manteve praticamente dentro do mesmo patamar apresentado por municípios que pouco investiram no setor, durante o período considerado. Esse quadro é evidenciado em quase todo o território nacional. Por isso, o responsável pela pesquisa defende a idéia de que, para melhorar o ensino, é preciso gerenciar melhor os recursos e remunerar o professor de forma diferenciada.

Com efeito, ao contrário do que se supõe, a questão não passa por nivelar por baixo a distribuição de recursos, mas, sim, aumentar os investimentos e amarrá-los às políticas educacionais melhor elaboradas. Não basta tão somente investir em melhoria das instalações e equipamentos, mas gerar efeitos multiplicadores na condição humana de educadores e educandos. Em relação aos primeiros, através da melhoria das condições de trabalho, a capacitação continuada e a melhoria salarial de docentes. No tocante à segunda, a motivação de alunos e o maior envolvimento de segmentos da sociedade civil e seus representantes legais.

Nesse sentido, há que se registrar a iniciativa do Senador Cristovam Buarque, que é autor de um Projeto de Lei, de número 480, de 16 de agosto de 2007, que determina a obrigatoriedade, até o ano de 2014, de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas. Ao final de 2008, a proposta encontrava-se na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania para sua apreciação. De acordo com esse projeto, se aprovado, todo o político eleito (vereador, prefeito, deputado, etc) estará obrigado a colocar seus filhos na escola pública. Com isso, espera seu autor provocar maior envolvimento de políticos com a qualidade do ensino nas escolas públicas. O projeto é polemico, mas coloca na mesa algumas questões capazes de fomentar o debate sobre a questão.

Para justificar o seu Projeto, o Senador Cristovam Buarque afirma que, “no Brasil, os filhos dos dirigentes políticos estudam a educação básica em escolas privadas. Isto mostra, em primeiro lugar, a má qualidade da escola pública brasileira, e, em segundo lugar, o descaso dos dirigentes para com o ensino público”.

E continua: ”Talvez não haja maior prova do desapreço para com a educação das crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras
exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma de corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios. Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos. Pode-se estimar que os 64.810 ocupantes de cargos eleitorais - vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores e seus suplentes, governadores e vice-governadores, Presidente e Vice-Presidente da República - deduzam um valor total de mais de 150 milhões de reais nas suas respectivas declarações de imposto de renda, com o fim de financiar a escola privada de seus filhos alcançando a dedução de R$ 2.373,84 inclusive no exterior”.

Justifica: “Considerando apenas um dependente por ocupante de cargo
eleitoral, o presente Projeto de Lei permitirá que se alcance, entre outros, os
seguintes objetivos: a) ético: comprometerá o representante do povo com a escola que atende ao povo; b) político: certamente provocará um maior interesse das autoridades para com a educação pública com a conseqüente melhoria da qualidade dessas escolas. c) financeiro: evitará a “evasão legal” de mais de 12 milhões de reais por mês, o que aumentaria a disponibilidade de recursos fiscais à disposição do•setor pública, inclusive para a educação; d) estratégica: os governantes sentirão diretamente a urgência de, em sete anos, desenvolver a qualidade da educação pública no Brasil”.

E conclui: “Se esta proposta tivesse sido adotada no momento da Proclamação da República, como um gesto republicano, a realidade social brasileira seria
hoje completamente diferente. Entretanto, a tradição de 118 anos de uma
República que separa as massas e a elite, uma sem direitos e a outra com
privilégios, não permite a implementação imediata desta decisão. Ficou
escolhido por isto o ano de 2014, quando a República estará completando 125
anos de sua proclamação. É um prazo muito longo desde 1889, mas suficiente
para que as escolas públicas brasileiras tenham a qualidade que a elite
dirigente exige para a escola de seus filhos. Seria injustificado, depois de tanto tempo, que o Brasil ainda tivesse duas educações - uma para os filhos de seus dirigentes e outra para os filhos do povo, como nos mais antigos sistemas monárquicos, onde a educação era reservada para os nobres”.

O projeto de lei, apresentado pelo Senador Cristovam, reforça o debate sobre o papel do ensino nas relações entre o Estado e Sociedade Civil, identificáveis através de suas evidências: investimentos em ensino público, não compatíveis com a qualidade da educação, a falta de um projeto político capaz de lhes dar identidade, o relativo envolvimento da classe política com o que acontece dentro das salas de aula.

É preciso um maior envolvimento da Sociedade Civil na formulação de um novo projeto escolar, uma vez que, hoje, a caminhada para o autoconhecimento de cada educando está fadada a desvios, em função das atuais características que assume a sociedade atual, que tem incentivado a competição, a beleza exterior, a mistificação da hiperespecialização, mas, principalmente, a violência, dentro de um paradigma baseado em “no limits”, assumida por padrões de “uma sociedade onde tudo pode”. Sem ritos, sem mitos, a sociedade perde suas tradições, vive sem heróis, referências e modelos e, por isso mesmo, procura saídas para a ausência de rumos.

Ao ser levada para dentro da escola, a discussão passa por uma revisão ética, capaz de nortear relações sociais que se baseiam na heterogeneidade, no incentivo à geração de ritmos, ciclos, hábitos e rotinas que respaldam a práxis de educandos e, por último, no princípio da coerência das ações, empreendidas por todos aqueles que convivem em ambientes escolares. Deve-se transformar a relação professor x aluno em professor e aluno, para permitir que a construção do saber passe a ser resultado de processos sinérgicos, onde cada ser humano sinta-se agente de seu processo de aprendizado.

A eventual remuneração escalonada, como quer o professor Naércio Menezes Filho, poderá incentivar professores, hoje comprometidos apenas em “conservar o adquirido”, a assumirem uma nova práxis, tornando-os mediadores das culturas que a escola reproduz, dentro de posturas de cooperação e inovação.

A prática do ensino deve estar voltada à formação de cidadãos críticos, deixando a Escola de assumir tão somente um papel de proteger, sob seus domínios, educandos e educadores, dos turbulentos ambientes onde se insere, para, enfim, levá-los a usar a imaginação, fonte de todas as felicidades humanas, estimulando-os a exercitar as suas capacidades de decisão, de modo a conduzi-los à felicidade que buscam.


A motivação e o auto-desenvolvimento estão na razão direta de como os alunos se trabalham, exercitam a criatividade, estabelecem, no processo, a muldisciplinaridade de conteúdos e o incremento de modalidades continuadas e os levam ao encontro de si mesmos, conscientes e conseqüentes com os valores evolutivos que marcam as suas existências. Parece óbvio? Nem tanto...