quarta-feira, 26 de outubro de 2011

INFORMAR OU PENSAR?

O termo “Sociedade da Informação”começou a ser empregado, em larga escala, a partir das últimas três décadas do século passado. Havia uma expectativa de se converter em importante ferramenta para o aperfeiçoamento de processos de comunicação e de evolução do conhecimento. Esse termo também passou a designar a Sociedade do Conhecimento, tendo em vista emergência de um novo termo: a globalizaçâo.

Questões semânticas à parte, pode-se dizer que a “Sociedade da Informação”, como o próprio nome sugere, passou a reservar à informação um papel fundamental na produção de riqueza, contribuindo, assim, para o bem-estar e a qualidade de vida dos cidadãos. A sua eficácia, no entanto, passou a depender da condição de os indivíduos envolvidos saberem ler e interpretar textos, efetuar cálculos matemáticos, ainda que simples, o que gerou a necessidade da formação de profissionais e sua qualificação, incluindo o aumento considerável de indivíduos nos ambientes acadêmicos.

Mal chegamos à primeira década deste século e já podemos notar o lado draconiano desse processo. Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia teve o resultado de seus estudos publicados na edição do dia 16 de outubro do corrente ano, no jornal New York Times, a partir do qual constata que ter informações tornou-se mais importante do que pensar, e, assim, estaríamos ingressando numa era pós-idéias.


Segundo ele, o grande volume de informaçôes, divulgadas através dos meios de comunicação, foi aliada à tendência de os usuários estarem perdendo a distinção entre ficção e realidade.

Thomaz Wood Jr., autor da postagem, descreve o relatório do autor: “Seu ponto de partida é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de grandes idéias, leiam-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo. De fato, é paradoxal verificar que nossa era, com seus gigantescos aparatos de pesquisa e desenvolvimento, o acesso facilitado às informações, os recursos maciços investidos em inovação e centenas de publicações científicas, não seja capaz de gerar idéias revolucionárias, como aquelas desenvolvidas em outros tempos por Einstein, Freud e Marx”.

Ao ler tal consideração, interpreto esse fato segundo o que diz a linguagem popular: que a vaca foi para o brejo. Há uma longa distância entre intenção e concretização do que fora estabelecido. Para o autor, a carência por boas idéias se deve ao fato de vivemos em um mundo no qual idéias que não podem ser rapidamente transformadas em negócios e lucros são relegadas às margens.

O autor reconhece o declínio de ideais iluministas, onde há a troca de modos avançados de pensamento por modos primitivos. Esse modelo afasta as universidades do mundo real, valoriza o trabalho hiper-especializado, em detrimento da ousadia. E, também, critica o culto da mídia por pseudo-especialistas, que defendem idéias pretensamente impactantes, porém inócuas.

Para Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia, o excesso de informações estaria debilitando nossas idéias, uma vez que elas, antes, eram coletadas para construir conhecimento, para compreendermos o mundo.

Graças à internet, o volume de informações disponibilizadas por qualquer fonte, em qualquer parte deste planeta, já não mais permite isso. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo para processá-las.

Assim o seu uso se torna meramente instrumental: nós as usamos para nos manter à tona, para preencher nossas reuniões profissionais e nossas relações pessoais. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento de idéias e sua construção de sentidos, por simples trocas de informações. Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em nossas infinitas redes de pseudo-relações. As redes substituem raciocínios lógicos e argumentos por fragmentos de comunicação e opiniões descompromissadas.

O autor diz que o excesso de informações virtuais nivela comportamentos tanto do mundo virtual como do mundo real: colhe-se e distribui-se informações sem vontade ou tempo para analisá-las. Captam e reproduzem informações como máquinas, cheias de imagens e frases curtas, signos cheios de significado e vazios de sentido.

Para Gabler essa ausência de análise corrobora para a desvalorização das idéias, dos pensadores e da ciência, uma vez que tendemos a aumentar o volume de informações mas há o paralelo perigo de não haver mais ninguém para pensar a respeito delas.

E, sobre todo esse contexto analisado por Gabler, de suma importância para definir atuais e futuros comportamentos, também acrescento o fato de um grupo de formadores de opinião brasileiros lançarem as bases para eliminação, no processo de aprendizado escolar, da escrita a próprio punho, já que a digitação substitui, por sua rapidez, os apontamentos manuscritos. Sabemos o valor de um manuscrito para a formação e definição dos perfis psicológicos de educandos.

E, por último, duas tendências, observadas por mim, em relação aos textos que circulam pelas redes sociais: o poder de síntese, para desobrigar usuários a gastarem muito tempo em leitura de textos longos, aliados à redação de textos mediante abreviaturas, contendo erros de português e cheios de estrangerismos. Acrescento que tais vícios levam à preguiça mental e o esforço limitado para análises.


Tenho reparado que artigos mais extensos, de minha autoria, postados neste blog, geram pouco interesse ou nem sequer são lidos, a par do esforço de fazer pesquisas, buscar lançar idéias que propiciam a discussão, tornar esse espaço mais atrativo à visitação. Em conversa com alguns leitores, eles me sugerem: faça textos mais enxutos, mais fáceis de serem lidos, que não façam o leitor “perder tempo””. E eu tenho respondido: “para isso existe o twitter”.

Gabler tem razão ao afirmar que colocamos a informação acima do conhecimento, mas eu acrescento ainda: informação concisa, clara, que não dê muito trabalho para o leitor pensar e que o livre da obrigação de gerar conhecimento.

Pois, afinal, neste contexto, descrito por Gabler, vale mais gerar informação que mantenha o poder e ascendência do que propiciar a reflexão e o surgimento de novas idéias. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento de idéias e a sua construção de sentidos, por simples trocas de informações. Talvez seja por isso que o twitter tenha se convertido em redundante sucesso.

E se, por acaso, algum dia inventarmos uma engenhoca que leia pensamentos, para encurtar o trabalho de digitação, talvez não achemos o conteúdo gerador do grande volume de informações despejados na internet, simplesmente porque esquecemos de gerar idéias, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo. Aí então poderemos lembrar o maior comunicador que já passou por este País, ao dizer “quem não comunica se trumbica”.







terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Homem que olhava para o Céu

Quando olho para trás, examinando o meu passado, identifico pessoas que de há muito me acompanham em minha jornada existencial. Dentre esses destaco um querido amigo que desde a minha juventude me acompanha neste caminhar. São quase cinqüenta anos de convívio.


Dele eu lembro uma frase célebre: “O autoconhecimento é o primeiro passo para a melhora”.  E elevo minhas preces aos céus para agradecer por tão longa amizade. E, enquanto faço isso, também me lembro de outra constante presença em minha vida, não física, porém presença sentida, de um grande Mestre Ascensionado, que ilumina meu caminho e me ensina muito sobre a arte do autoconhecimento e da transformação interior. Ambos ajudam-me a completar o sentimento que alimento em relação aos verdadeiros amigos.



O Mestre é autor dessa parábola que passo a retratar a seguir:

Shidoshi era um grande homem, que peregrinava pela terra, carregando consigo o seu saber e também a sua vontade de sentir a vida. Não tinha uma idéia exata de quem era, mas tinha a certeza de que, se continuasse a questionar e também buscar respostas, chegaria a ter uma certeza maior sobre sua pessoa.
 Certo dia, ao viver um momento de profunda tensão, Shidoshi parou para contemplar o céu, fitando as estrelas, que brilhavam naquela noite muito bela. Questionador aproveitou aquele momento para fazer uma constatação: “O fato é que eu as vejo, mas também é fato que elas não me enxergam”. E assim ele incluía mais um enigma em sua vida. Buscou a ajuda de um cientista renomado, mas se surpreendeu com a resposta às suas indagações: “como podes, pobre homem, questionar-me algo tão infame?” “Não vês que seu tamanho é deveras inferior ao das estrelas e, por isso, você as vê e também é por isso que elas não o enxergam?

Shidoshi não ficara satisfeito com aquela resposta e resolvera continuar a sua busca. Dessa vez deparou-se com um nobre guerreiro e lhe fizera o mesmo questionamento. Esse lhe respondera: porque, para as estrelas, o que vale é o coletivo de todos aqueles que hoje estão no Planeta Terra. “As estrelas não lhe vêem Shidoshi, como um único homem, porque elas entendem de grandes dunas, como se você fosse apenas um grão de areia”.

Ele começava a se conformar com aquela resposta, dizendo a si mesmo: “enxergo as estrelas, mesmo que numerosas, porque elas são maiores do que eu, e, eu, portanto, sou muito inferior a elas. Elas me vêem, na imensidão do universo, como um pequeno grão de areia, que habita a dimensão do planeta terra.

Mas ele se apercebera que acabara de validar as impressões oferecidas pelo cientista e pelo sábio homem, sem, contudo, procurar os seus verdadeiros sentimentos. Então, tornou a fitar o céu estrelado, até que chegou a tamanha familiaridade com elas, que as estrelas mais se pareciam irmãs ou primas do que propriamente estrelas distantes no firmamento. E, ao fitar os céus, também percebeu o movimento das estrelas cadentes.



E entendeu que aqueles movimentos simbolizavam uma resposta das estrelas às suas indagações. Percebeu que as estrelas brilham porque amam, brilham feito elas. Quanto mais amam, mais brilham. Quanto mais sabem que amam, mais são vistas e quanto mais vistas mais amigas e irmãs se tornam, e quanto mais amigas e irmãs possuem, mais belas tornam-se às dunas da evolução, e quanto mais belas, mais vistas, diante das verdades dos céus, mais belas se tornam às verdades da terra.

O Mestre conclui sua estória dizendo que aquele que quer enxerga as estrelas, assim como também crê que elas assim o enxergam. Esse é o poder da integração, que se expande e se estende para além de um único grão. Isso faz com que cada um compreenda a sua dimensão diante do universo. “Você é o que acredita ser, tens o tamanho do que sentes, pertences ao universo quando pensas grande, mas  és um grão de areia quando nada sentes. Da próxima vez que você ver estrelas cadentes no  céu, cumprimente-as pois são suas primas do céu dizendo: Eu vi você!”

Minhas digressões servem para exortar o valor das amizades em nossas vidas. Nada somos, sem elas. Rendo aqui minhas homenagens a todos os que convivem ou passaram por minha vida, como verdadeiros amigos, do qual torno Alfred uma das referências para os que vieram depois. Alguns já se foram, outros seguiram seus próprios destinos, outros ainda continuam a sua trajetória próximos a mim. Com meus amigos não me sinto um grão de areia. Sou um espelho que reflete a luz dos demais, estreitando os laços entre a grandeza do cosmos e a singeleza de um grande-pequeno grão de areia.