domingo, 26 de fevereiro de 2012

Críticas

Pelas pesquisas estou sabendo que o número de pessoas que visitam esta página é pequeno.


Ela não tem o dinamismo do twitter, que utiliza frases curtas, concisas, para expressar pensamentos e facilitar a disseminação de idéias. Muitos me criticam por escrever textos longos e, portanto, estar na contra-mão dessa tendência. Outros acabam por me confessar que sofrem de preguiça ou alegam tempo escasso para ler sobre minhas digressões.

Também estou longe de enquadrar-me no estilo oferecido pelo facebook, voltado à socialização e a interação social, a partir de conteúdos que dominam o imaginário popular. Mais uma vez sinto-me marginalizado dos paradigmas que pessoas próximas me sugestionam para "melhorar" a acessibilidade a este blog.

E, ainda, também estou fora do mundo dos blogueiros, já que a moda do blog está passando e desinsentivando autores a seguirem com suas propostas originais. Por isso me considero "totalmente fora dos padrões". À medida que cai a "audiência" aumentam as críticas a um autor que segue o seu "tranquito", sem se importar se a moda agora está ou não migrando para uma outra mídia ou se devo ou não mudar para "agradar" àquelas pessoas que a toda hora migram em busca de estarem sendo enquadradas como modernas ou "na crista da onda".

Meu objetivo não é me tornar popular e admirado pelas massas, contar o número de "amigos" conectados à minha rede ou dizer banalidades como "estar entediado, estar cansado por um dia cheio ou ter brigado com fulano ou beltrano. Deixo isso para os políticos, os que desejam a notoriedade ou a popularidade.

Meu objetivo é mais simples: conversar com pessoas consequentes, que buscam entender o comportamento humano e aprimorar suas vidas a partir de um melhor conhecimento de si mesmos, a partir da interatividade que um artigo como este enseja. Mesmo que isso signifique receber críticas a todo momento, por não ter agido assim ou assado.

O ser humano não construiu uma estrutura psicológica para receber críticas. Fugimos delas tanto quanto dos consultórios de dentistas, quando ouvimos aquele barulhinho característico de brocas mexendo em nossas bocas.

Ao contrário: gostamos de receber elogios, sermos considerados, admirados, enquadrados na condição de sábios, de modelos para que outros se inspirem. Adoramos ver o nosso ego envaidecer-se por saudáveis louvores a nosso nome.

Logo pulamos de raiva, indignação, frustração ou repulsa por uma crítica recebida. Nos esquecemos que somos seres imperfeitos, passíveis de erros e enganos, em busca de nosso aperfeiçoamento.

Foi o que aconteceu comigo durante um episódio, ocorrido esta semana de carnaval. Minha filha havia me pedido um favor e eu lhe disse que não poderia atender o seu pedido.

Eis aí uma outra limitação humana: não estamos acostumados a receber um não como resposta. Nosso ego não deixa. Sempre queremos o sim como resposta e, de preferência, acompanhado por um sorriso largo no rosto. Ou, então, ficamos com medo de dizer não para não ferir sentimentos e assim evitarmos de vermos nossas imagens arranhadas. E nos esquecemos que o sim, que dizemos, sem muita convicção, pode ser mais prejudicial àquela pessoa a quem nos dirigimos do que o impacto momentâneo que enseja a palavra nâo pronunciada de forma antipática.

Minha esposa saiu em defesa de minha filha. Ela, uma boa e autêntica aquariana, defensora dos oprimidos e injustiçados, bateu firme e forte contra minha opinião. Já ia revidar como sempre faço, espalhando farpas e distribuindo impropérios por ver minha honra arranhada, por ouvir críticas e censuras a meus posicionamentos. Mas minha intuição se abriu e, em vez de rugir, como leão, resolví pensar em tudo que a situação subjacente poderia revelar-me.

Sempre encarei as críticas como algo nefasto, chamando o lado negativo de minhas percepções.

Já deveria ter me acostumado a ver tais atitudes, críticas, azedas, proferidas por minha companheira, ao longo de quatro décadas de vida conjugal, pois elas se perdem na poeira de nossa história. Elas simplesmente se tornaram mais ácidas, mais sarcásticas, mais diretivas, à medida que o tempo avançou em nossa relação.

Então resolví traçar um paralelo entre o tempo em que eu era jovem e o momento atual, já desgastado pelo tempo, muito embora nem sempre em minha plena maturidade. Quando jovem, tentava utilizar a minha eloqüência, elaborando discursos cheio de palavras medidas, para "provar" que estava certo e, na mesma medida, "ela" errada. Acreditava que, pelo diálogo, poderia fazê-la mudar de posição e "trazê-la" para o meu lado. Ledo engano.

Uma infinidade de casamentos acabam, provocados por críticas ácidas, contundentes, sarcásticas, irônicas, confrontatórias. Acabei descobrindo que é pura balela procurar "fazer a cabeça do outro". Não se muda uma pessoa de fora para dentro. É ela mesmo quem muda, quando se achar amadurecida, dentro de si, para promover mudanças de atitudes às quais, costumeiramente, pratica.

Também descobri que o ato de calar, por si só, também não é remédio para a cura.

Sempre encarei a crítica como algo nefasto, que abala o próprio ego, deprecia, oprime, ainda que pronunciada com um sorriso no rosto.

Mas, há certa altura de minhas reflexões, dei uma parada e me perguntei: quem seria eu, ao longo desses anos, se não tivesse convivido sistematicamente com a crítica? Será que chegaria a ser o que hoje sou, embora imperfeito, mas com convicções formadas?

E, se minha companheira tivesse dito sim para tudo e se tornasse uma pessoa concordata, como poderia testar minhas convicções? Às vezes queremos que tudo nos aconteça de maneira fácil, sem atritos, sem obstáculos, simplesmente as coisas irem se plasmando à medida que idealizamos. Sempre esperei que o destino deveria espontaneamente abrir suas portas, facilitando as coisas para que nosso livre-arbítrio fosse se materializando naturalmente em tudo aquilo que fosse objeto de nosso desejo. Perguntei-me: não seria chato isso?

Então, em lugar de pensar que ela, com suas críticas, não estava acreditando em mim, não estava levando fé em mim, estaria me desautorizando, passei a ver o outro lado da moeda. Em lugar de ver nessa atitude uma coisa ruim, que estraga relacionamentos, passei a ver a coisa pelo lado positivo de observar como tenho agido, diante de obstáculos, confrontos e oposições. Estou sendo colocado à prova, assim como minhas crenças, para me tornar um ser mais forte, mais convicto, mais determinado. É do atrito que nascem as certezas, assim como árvores que, se quiserem se tornar altas e frondosas, chegarem a alcançar a luz do sol, em meio à copa de outras árvores, terão que rasgar a terra e, a cada dia, a aprenderem a sugar a seiva do solo em meio à luta pela sobrevivência.

Em lugar de olhar para ela, devo olhar para mim. Não julgar mais suas atitudes. Minha companheira que faça o seu trabalho como desejar, mude quando quiser e siga suas próprias inclinações. Seja o que ela quiser ser. Se quiser continuar me criticando, que o faça.

Devo olhar para meu interior e rever minhas metas. Fazer minhas próprias descobertas. Acredito que não sensibilizarei ninguém se, antes, não estiver devidamente sensibilizado pelo que acredito. Não posso culpá-la, nem reprová-la. A minha responsabilidade é com a minha vida.

Passarei, a partir de agora, a agradecer a Deus por ter colocado a meu lado alguém que me obrigue a me trabalhar, tirando-me da letargia, da procrastinação, para me levar pelos caminhos da autocrítica. Agradeço aos Mestres, em especial a meu Mestre Instrutor, por soprar no meu ouvido a hora de parar de me lamentar, de me achar vítima de alguém que, costumeiramente, me critica. E elevar minhas preces aos céus, por me dar a oportunidade de acordar e ver que a verdadeira felicidade depende do olhar como vejo o mundo. O mundo será aquilo que eu fizer dele. Nem mais, nem menos.

E, quando alguém criticar este blog, também devo me lembrar das sábias palavras de meu Mestre Instrutor: olhes para o teu coração e acharás o caminho a seguir, ainda que esses artigos não agradem àqueles acostumados aos twitters e facebooks da vida, onde frases bonitas não refletem vidas experimentadas e frases materializadas por experiências construídas em cima de atritos e obstáculos a serem contornados, tal qual um rio que, para seguir o seu curso, aprende a serpentear, até desaguar no mar onde todas as experiências se juntam e tudo se soma no plano da existência. As críticas não são boas nem ruins, elas ganham o seu tom segundo o nosso olhar e a nossa forma de responder ao que nos é interpelado.