terça-feira, 2 de abril de 2013

Breve reflexão sobre o futebol no Brasil

No momento que inicio a presente reflexão, jogam Paris Saint Germain e Barcelona, partida transmitida ao vivo, tanto pelas principais emissoras de televisão brasileiras, quanto por emissoras de rádio e sites da internet. As atenções futebolísticas se voltam para Paris, França, dentro de uma liga milionária, a européia.

Dizem que, no Brasil, temos mais de 100 milhões de técnicos de futebol. Não me considero um deles mas também gosto de uma boa partida de futebol. Nâo escondo de ninguém as minhas preferências, ao torcer pelo Sport Clube Internacional de Porto Alegre, o chamado Colorado. Meus ídolos de infância e adolescência foram Bodinho, Larry, Elias Figueroa, Claudiomiro, Dada Maravilha, Dunga,e tantos outros que, hoje, em sua maioria ninguém mais ouve falar.

De minha infância para cá o futebol "evoluiu". Naquele tempo, as promessas diziam: quero me tornar um craque, quero estar entre os melhores. Hoje os jogadores dizem: "quero me tornar rico e famoso. Quero ficar conhecido para jogar na Europa".

O futebol se profissionaliza desde a base. Menino de varzea já não tem mais vez. Ou ingressa nas escolinhas  de base, já recebendo contrato envolvendo enormes somas como "futuro craque" ou não precisa colocar chuteira e entrar em campo. Os empresários mandam, os times lutam para saldar as suas folhas de pagamento, a mídia faz o seu marketing, cria mitos como Neymar, um bom jogador, mas aquém do status conferido pela grande imprensa, que chegou a tentar edificá-lo como melhor do que Messi.  

O resultado é esse: sabemos mais dos times da União Européia do que dos clubes que disputam os atuais campeonados estaduais. Os estadios estão vazios, a renda é baixa, os salários estão atrazados, os desníveis são acentuados. Para se ter uma idéia: amanhã o meu time inicia a sua caminhada pela Copa do Brasil, enfrentando o Rio Branco, time do Estado do Acre que também joga com as mesmas cores do colorado gaúcho, vermelho e branco. Mas a diferença termina aí.

A folha do colorado do sul gira em torno de R$6 ou 7 milhões mensais. A folha do Rio Branco gira em torno dos R$80 mil por mes, para cobrir despesas com jogadores, comissão técnica e funcionários do clube. A grande alegria da diretoria é ver a folha paga.

Quem, no Brasil, ouve falar de Rio Branco, Desportiva, São Mateus, Espírito Santo? Pois estes são os principais times do Estado onde vivo. Mas observo o capixaba torcer mais pelo Flamento, Fluminense, Botafogo, Vasco ou Corintians. Enquanto os campos, onde jogam, atraem poucos torcedores, os bares lotam por aficcionados do futebol, o futebol praticado no Rio ou em São Paulo.

Mas nem esses possibilitam os melhores espetáculos, pois a fraca atuação, só para exemplificar a campanha  tímida do Flamengo no campeonado carioca, time de maior torcida do Brasil, repleta de tropeços, justamente contra times pequenos, obrigando dirigentes a promoverem verdadeiras faxinas em seu elenco. O resultado? O torcedor se desespera, se irrita, quer a vitória, nem que seja na marra, quer ver o seu time ganhar. Organizados em torcidas, os torcedores agridem e provocam tumultos, quando os times realizam má campanhas.

Enquanto isso, investe-se somas vultuosas na reforma, apliação e construção de estádios, num País que carece de boa educação e, principalmente, uma boa rede de saúde. E ainda por cima sob denúncias de irregularidades, má gestão e falta de segurança coletiva. Triste contraste.

Com profundo pesar assisti o atual técnico da seleção, Luis Felipe Scolari, que comandou uma campanha medíocre à frente do último time que dirigiu, dizer que o Brasil tem a obrigação de ganhar a próxima copa. Estamos desorganizados demais para isso. Empobrecidos e "profissionalizados" demais.

 Enfim, a esta altura o jogo já terminou, enquanto faço minhas digressões. Jogo de cumpadres: terminou empatado. E, na sequencia, penso que o melhor futebol do Barcelona algum dia se inspirou no futebol brasileiro para chegar onde chegou. Triste contraste. Triste realidade.

A continuar a prevalência desse quadro, tenho que me contentar, num simples dia de semana, a apertar o botão da telinha e ver o futebol europeu e, principalmente, o desinteresse da mídia nacional, monopolizada e cartelizada, esconder a atuação dos clubes brasileiros, jogando em busca de novas glórias, mas ainda em preto e branco.

Nenhuma seleção ganhou tantos títulos quanto a canarinha. Devíamos ter orgulho disso, devíamos ter os melhores estádios, os melhores times e os melhores jogadores. Devíamos ter orgulho de termos o melhor futebol do mundo. Mas agimos como colonizados e não como verdadeiros colonizadores que muitas vezes ensinamos futebol para as demais nações. Em lugar disso temos apenas futebol mediano para mostrar, cuja principal finalidade é preparar jogadores para jogar na Europa. Ou para recebe-los de volta, quando não fazem mais sucesso no exterior, não gozam da mesma fama e, invariavelmente, são meros reservas em times que possuem menor tradição.

Saudades dos tempos de maracanâ lotado e dos grandes espetáculos. Saudades dos tempos em que se ganhava pouco e jogava-se muito. Do tempo que camisa tinha poder e fama era consequência, não objetivo. De lá pra cá, alguma coisa se perdeu. De quem é a culpa?

Certamente os gandulas são fortes suspeitos. E, se não forem eles, quem mais responde pela inversão de valores e interesses corporativos? Quem responde por conhecermos mais sobre o Paris Saint Germain ou Barcelona do que os times que disputam o Campeonato Nacional? Quem mais responde pelas desigualdades na destinação do dinheiro público, enquanto nos portamos como subdesenvolvidos a espiar o que acontece no chamado mundo civilizado?





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